quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Afinal, o que Nietzsche queria?

Friedrich Wilhelm Nietzsche, filósofo e poeta alemão do século XIX, deixou-nos apenas uma lembrança da verdade. Afinal, será que Nietzsche estava em busca incessante para a destruição da mentira? “O problema do valor da verdade apresentou-se à nossa frente – ou fomos nós a nos apresentar diante dele?" Nem um nem outro. Em nossa sociedade, podemos analisar claramente que não aceitamos a verdade como ela é, e simplesmente alteramos ela numa forma que se torne mais aceitável e mais encantadora. Por que a verdade valeria mais do que a inverdade? Ambas são apenas conceitos e concepções. Mantendo uma perspectiva crítica em relação àqueles a quem chama de filósofos ou metafísicos, Nietzsche diz que o principal erro destes que procuram a verdade é pressupor que as coisas que mais valorizam não poderiam derivar deste mundo sensível, considerado enganador e fugaz. Ao contrário, deveriam possuir uma origem própria, isto é, única, absoluta, inquestionável, diretamente de algum ponto último que lhes servisse de fundamento, algo como uma coisa em si, um deus oculto ou o seio do ser. A crença é que a verdade tão procurada não poderia ser algo da ordem das experiências e dos fenômenos, devendo pertencer a um outro mundo situado para além do sensível. O erro do mundo consiste em criar verdades particulares, e não buscar uma universal. No entanto, basta questionar: há verdades universais? Não. Não há fatos eternos, assim como não há verdades absolutas. Todas verdades são criadas pelo homem através da história. Cabe dizer que se a verdade é criada, então ela é uma espécie de erro. Uma verdade é apenas um erro mais aceito pela moral, talvez por ser um erro necessário. Melhor dizendo: a verdade é um erro necessário que precisamos para viver. Entretanto, como todas as verdades e valores foram criados historicamente, é um engano tê-los por verdade. A verdade em que se acredita nada mais é do que a crença na veracidade de um engano. Tem-se um conceito de,

"Uma proposição tal qual ‘duas coisas iguais a uma terceira são iguais 
entre si’ pressupõe: 1) as coisas 2) as igualdades: nenhuma nem outra 
existem. Mas, graças a este mundo fictício e fingido de nomes e conceitos, 
o homem adquire um meio de dominar massas enormes de fatos com 
ajuda de signos e os inscreve em sua memória. Este aparelho de signos 
constitui sua superioridade justamente porque lhe permite se distanciar ao 
máximo dos fatos particulares. A redução das experiências aos signos e a 
massa cada vez maior de coisas que podem ser apreendidas: eis sua força 
suprema." (FP 11: 38 [131], Outono 1884 – outono 1885) 

Concluindo a verdade (que já não é verdade pois é um conceito que o homem criou para dominar suas próprias crenças), o que existe até os dias de hoje e o que Nietzsche quis dizer em respeito à verdade, é que ela não existe, já que foi feito pelos homens e cultivados por eles. A verdade é apenas um valor histórico que se adaptou ao homem. A verdade sempre será o nosso suporte para suportar nossas próprias ideologias e crenças em coisas "além-do-mundo". Por isto, Nietzsche pode dizer “que renunciar aos juízos falsos equivale a renunciar à vida, negar a vida. Reconhecer a inverdade como condição de vida: isto significa, sem dúvida, enfrentar de maneira perigosa os habituais sentimentos de valor; e uma filosofia que se atreve a fazê-lo se coloca, apenas por isto, além do bem e do mal”.

Nesta visão Nietzschiana, vale ressaltar que Nietzsche deixa claro que: negar aquilo que temos por verdade, seria negar a própria vida, pois vivemos pelo fato de se sustentarmos em coisas que nos fazem acreditar que a vida vale a pena ser vivida. Independentemente do que se acredita, Nietzsche considera que devemos acreditar no que quisermos, mas não nas coisas que nos privam de viver, pois isto seria realmente uma inverdade, e uma destruição da própria vida. Finalizando, vale viver acreditando em verdades fictícias, pois é a utopia que move o homem, e enquanto houver utopias e sonhos, haverá vidas que valerão, sem dúvidas, à pena serem vividas.