segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A governamentalidade em excesso - uma visão foucaultiana

Michel Foucault, comumente conhecido como Foucault, é de nacionalidade francesa, nasceu na cidade de Poitiers, em 15 de outubro de 1926, e faleceu em 26 de junho de 1984, aos 57 anos, de Aids. Foucault veio de família tradicional de médicos, e romper com essa tradição lhe custou muito, e acabou se graduando em história, filosofia e psicologia.

Foucault foi considerado no século XX um dos maiores filósofos da história pela sua perspectiva da análise da história através da genealogia (tomada de Nietzsche), que nada mais é do que a análise da história através de um aspecto crítico da mesma. Foucault analisou ene objetos e aspectos de sua construção, como por exemplo as formas de governo, as relações das instituições e o seu poder na formação da conduta do indivíduo. Dentre estas análises, é evidente notar que o filósofo quis mostrar que nada é natural, e tudo é uma construção histórica. Nada se faz por acaso, ou seja, todo objeto no contemporâneo é uma consequência de uma história.

Michel Foucault deixa claro que nunca poderemos nos livrar das relações de poder e os domínios de saber, que nada mais são do que o conhecimento científico e as tecnologias do poder que dominam os indivíduos. O Estado, na visão foucaultiana, é um Estado biopolítico, pois tem como função apenas cuidar da vida dos indivíduos e de deixá-los viver livremente; no entanto, o Estado não vem cumprindo o seu papel de modo correto, e acaba criando as instituições como uma forma de intervir na vida do ser humano, como uma forma de manipulá-lo e de conduzi-lo a alienação. Por exemplo, quando compramos um celular, este celular é produzido numa instituição que encontra-se diretamente ligada ao governo, e que dependem mutuamente um do outro para viverem. E no entanto, estes aparelhos eletrônicos de "poder", conforme Foucault denomina, são meras formas ocultas para dominar a sociedade e fazer com os mesmos nunca opinem nas razões do Estado e sejam apenas meros espectadores das próprias ações do governo.

De acordo com o dicionário de filosofia, a palavra poder, na esfera social, seja pelo indivíduo ou instituição, se define como "a capacidade de este conseguir algo, quer seja por direito, por controle ou por influência. O poder é a capacidade de se mobilizar forças econômicas, sociais ou políticas para obter certo resultado (...)" Foucault trata principalmente do tema poder, que para ele não está localizado em apenas uma instituição, e nem tampouco como algo que se cede, por contratos jurídicos ou políticos. O poder em Foucault reprime, mas também produz efeitos de saber e verdade, ou seja, os conhecimentos científicos e as tecnologias de poder que objetivam os objetos de uma forma tão pura, que criam a ilusão no ser humano no aspecto deles pensarem que as coisas são todas naturais e não construídas historicamente. Foucault enfatiza que as relações de poder nos obrigam a dizer a verdade para que elas possam produzir a nossa própria verdade. Ou seja, as relações de poder, sejam elas instituições de tecnologias, poder político, leis, escolas, quartéis, faculdades, criam a verdade através do nosso próprio dizer, e com isto as instituições criam a verdade objetiva, ou considerada como "real" para nos manipular,

para assinalar simplesmente, não o próprio mecanismo da relação entre poder, 
direito e verdade, mas a intensidade da relação e sua constância, digamos isto: 
somos forçados a produzir a verdade pelo poder que exige essa verdade
e que necessita dela para funcionar, temos de dizer a verdade,
somos coagidos, somos condenados a confessar a verdade ou encontrá-la.
(Foucault, 1999:29)


No entanto, de acordo com Foucault, a modernidade trouxe duas novidades fortemente interligadas: poder disciplinar, no âmbito dos indivíduos; e sociedade estatal, no âmbito do coletivo. O poder disciplinar surgiu em substituição ao poder pastoral (no campo religioso), poder esse exercido verticalmente por um pastor que depende do seu rebanho e vice-versa. No poder pastoral, o pastor deve conhecer individualmente cada membro do seu rebanho, se sacrificar por eles e salvá-los. Já no campo político, a sociedade estatal veio em substituição ao poder de soberania, vem da lógica pastoral, embora não possa ser salvacionista, nem piedoso e nem mesmo individualizante. Assim, o poder de soberania tem um déficit em relação ao poder pastoral. Daí surge o poder disciplinar para preencher essa lacuna, com efeitos individualizantes, vigilante, a fim de preencher os espaços vazios do campo político.

Cabe dizer que para Foucault, o Estado nada mais é do relações de poder; ou seja, uma forma em que ele produz o ser humano que quer, sem com que o indivíduo tenha uma resistência contra ele, e a forma mais eficaz de se combater um Estado ganancioso e pretensioso, é questioná-lo, é criticá-lo, é colocá-lo à prova da verdade e desvendar sua racionalidade que é criadora das próprias instituições de poder e manipulação. Devidamente à isto, cria-se a nova ideologia de "se podemos ser governados, como podemos não ser governados?" A única resposta é utilizar da política crítica, ou seja, testar os limites do Estado, pois tudo aquilo que é construído historicamente, pode ser também estudado historicamente. A lógica da desconstrução de Deleuze é clara em dizer que "tudo aquilo que é compreendido, pode ser destruído." Não no aspecto de anarquismo e destruição do Estado, mas nunca forma de compreendê-lo e fazê-lo tornar-se eficaz em suas próprias ações. O Estado é do povo, e não de meras instituições e de pessoas especificas.